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Agência HUB Equipe Notícias

“Seja branco, preto, pardo ou indígena, todos temos que falar sobre isso”, afirma pesquisadora sobre racismo estrutural

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Nuncia Guimarães deu várias dicas de leitura que abordam o racismo sob a perspectiva de autores negros // Foto: arquivo pessoal

 

“Não me chamem de senhora, gente, eu tenho 23 anos”, pediu Nuncia Guimarães, entre risos. Com seriedade e bom humor, a cientista social e mestranda da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) conversou sobre racismo estrutural com a comunidade acadêmica da ESPM Porto Alegre na quarta-feira (17), em um encontro promovido pela Global Junior. Apesar da complexidade do tema, Nuncia ressaltou que para “desnaturalizar a opressão, é preciso colocar o dedo na ferida”.

A pesquisadora explicou que o racismo estrutural engloba vários tipos de racismo, desde o recreativo – piadas que fomentam o preconceito – até o epistemológico, isto é, não atribuir conhecimento científico a pessoas negras. Ela também abordou o contexto histórico do racismo no Brasil e no mundo, lembrando que “precisamos trazer perspectivas de outros povos – não europeus – para descolonizar a História”.

Com relação às manifestações antirracistas atuais, Nuncia reiterou que “são um movimento de ruptura, de organização e, acima de tudo, de transformação na sociedade”. No entanto, não é preciso olhar para os Estados Unidos para encontrar exemplos de brutalidade policial. A cientista chamou a atenção para casos semelhantes que ocorrem no Brasil, sobretudo em comunidades e bairros periféricos. Ela frisou que a maioria é sequer noticiada pela mídia tradicional, e os que são divulgados acabam sendo “esquecidos” rapidamente. “A justiça não é cega, ela é branca. Essa noção já perdura há muito tempo”.

Outro aspecto debatido foi o feminismo, onde Nuncia destacou que, embora as mulheres negras acabaram sendo deixadas de lado em diversas questões do movimento, “não podemos segmentar o feminismo, pois não existe luta feminista que não seja antirracista. Incluir mulheres negras na discussão é imprescindível para que a sociedade melhore como um todo”. Nas palavras da autora Angela Davis, “por estarem à margem da pirâmide social, quando as mulheres negras se movem dentro da sociedade, toda a estrutura se move com elas”.

A pesquisadora ainda ofereceu várias sugestões de autores negros que tratam diversas vertentes do racismo no Brasil, seja de maneira ficcional ou não. Alguns exemplos citados foram Carolina Maria de Jesus, Jarid Arraes, Juliana Borges e Cidinha Silva. “É preciso que as pessoas leiam sobre o racismo para poder falar sobre isso”, afirmou Nuncia.

A cientista também promoveu a desconstrução do conceito de “lugar de fala”, dando a entender que apenas aqueles que sofrem o preconceito tem prioridade para falar do assunto. “Todo mundo tem lugar de fala, o empoderamento é coletivo. Os brancos, sobretudo, precisam se ‘racializar’, isto é, ter consciência de sua raça e de seus privilégios”. Nuncia lembrou que, apesar dos avanços nos debates sobre o tema, o racismo segue sendo o crime perfeito no Brasil por ser um crime velado. “O racismo é tecnológico, ou seja, está sempre se atualizando. Sua sutileza fere, mata.”

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