Os bastidores da cobertura internacional e os desafios da apresentação: Com vocês, Márcio Gomes

‘’Eu adoro ouvir as perguntas, ver esse interesse dos alunos. Isso me motiva muito’’. É dessa maneira que o apresentador e repórter da TV Globo, Márcio Gomes, começa seu painel online com os alunos de jornalismo da ESPM. Para ele, é fundamental que haja a conexão entre os alunos e o mercado de trabalho para mostrar a realidade da profissão. A palestra faz parte do projeto Globo no Campus, que neste período está acontecendo de modo remoto, em uma parceria entre o curso de Jornalismo da ESPM Porto Alegre e a Globo Universidade. O evento também marcou a agenda de comemoração da primeira década de existência do curso. 

Com mais de 25 anos de carreira, Márcio Gomes tem passagem pela Globonews, foi repórter local, de rede e correspondente da TV Globo em Tóquio, entre 2013 e 2018. Durante os últimos dois meses foi o responsável por apresentar o programa da grade nacional ‘’Combate ao Coronavírus’’, exibido diariamente pelas manhãs. ‘’No começo, era um programa de emergência. A gente pegou uma pessoa da GloboNews, uma do Jornal da Globo, algumas pessoas de vários jornais’’, conta Márcio sobre a estreia do programa que originalmente seria no Rio de Janeiro, mas que foi transferido para os estúdios de São Paulo. Ele contou que fazer um programa sobre a Covid-19 não foi uma tarefa fácil. Segundo ele, as pessoas já recebiam muitas informações sobre a doença no Bom dia, Brasil e que, portanto, o programa, que entrava ao ar logo após o telejornal, não poderia ser carregado com mais informações da pandemia. Por isso, Márcio disse que a equipe resolveu focar na saúde das pessoas, ensinando como lavar as mãos, a importância de usar as máscaras e, também, dar exemplo ao público. ‘’Não só o que as pessoas falam, mas o que as pessoas veem, serve de inspiração pra quem tá em casa’’, disse o jornalista ao relatar que os próprios convidados do programa ficavam distantes entre si. 

Outro aspecto que chamou a atenção dos alunos foi o relato de coberturas internacionais. Márcio comentou sobre a situação emblemática em que viajou às Filipinas para cobrir a visita do Papa ao país. Ele contou que, ainda no hotel, a produção da Rede Globo ligou avisando que haveria a execução de um brasileiro que estava preso há anos na Indonésia, e que, por isso, ele deveria cobrir o evento. ‘’Nessas horas você nem pensa, só vai’’, disse. Mesmo sem visto ou outros documentos, o repórter desembarcou em Jakarta, capital do país, e enfrentou mais dez horas de viagem até o local da execução. Em suas palavras, Márcio disse que ‘’nem era tão longe, mas a estrada era tão ruim que a viagem demorou dez horas’’. Ele comentou que a equipe começou a matéria no porto da cidade, entrevistando advogados e familiares de outros presos que também seriam executados na mesma ocasião, mas que foram surpreendidos. ‘’Na hora que eu terminei a passagem, que é aquela hora que o repórter aparece, eu percebo umas pessoas estranhas me olhando, e eu olho estranho também, e aí a gente vai entrando pro carro devagarzinho. Eram policiais, e a primeira coisa que eles fazem é pedir o passaporte. Eles queriam ver se a gente tinha o visto de jornalista, e a gente entrou como turista’’, relatou. Depois disso, Márcio contou que foi levado para a delegacia e prestou depoimentos durante cerca de quatro horas. Mas mesmo com o contratempo, a matéria foi ao ar. ‘’Por sorte, o fuso na Ásia é ‘pra frente’ então eu tinha tempo pra fechar a reportagem do Jornal Nacional daquela noite’’, disse. Por coincidência, ao voltar para o hotel, a equipe da embaixada brasileira estava no local dando suporte aos familiares brasileiros do homem que seria executado que estavam hospedados no mesmo prédio, o que deu suporte para o conteúdo da matéria.

A bagagem e o profissionalismo do apresentador encantaram o público de 100 participantes online. Para a aluna do primeiro semestre de jornalismo, Rafaela Capitão, o que mais chamou a atenção foi a postura do convidado: ‘’O cuidado ao falar e ao expor as suas opiniões, de maneira humilde e humana, me tocou profundamente. Em nenhum momento ele demonstrou impaciência com as perguntas, pelo contrário: procurava pensar e formular as respostas da melhor maneira possível, a fim de conseguir transmitir as suas mensagens de maneira transparente.’’, pondera a caloura. Além disso, o repórter falou sobre o mercado de trabalho e respondeu aos anseios e dúvidas que surgiam durante a conversa, transformando o painel em uma troca de experiências entre o profissional e os estudantes. Para fechar o evento, Márcio Gomes fez uma série de recomendações de materiais que podem contribuir na formação dos futuros jornalistas. Para conferir a conversa completa, basta ouvir a edição especial do podcast Isolado&Misturado clicando aqui.