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Jornalismo: entre o ideal e o real

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Nos dias de hoje, onde permanecer constantemente informado parece uma tarefa quase impossível, são os pequenos detalhes e mudanças que movem um jornalista – sendo a âncora e a inspiração que motivam esses profissionais nesse universo. O jornalismo permanece como uma instituição necessária na sociedade, levando notícia e informação à população e sendo uma ferramenta social para ajudar aqueles que precisam. Desde 1931, o Dia do Jornalista é comemorado em 7 de Abril, escolhido em homenagem ao médico e jornalista Giovanni Battista Líbero Badaró.

Foi em comemoração a essa data que Luiz Antônio Barbará, jornalista de 32 anos, que já trabalhou em diversas emissoras renomadas como CNN, Globo e Record, compartilhou as vivências que adquiriu em sua carreira. Em meio as muitas palavras que surgiram ao longo da conversa, algumas se encaixam para representar de maneira muito verdadeira o que é, de fato, ser jornalista: 

Persistência, coragem, frustração e felicidade

Persistência e coragem

 Aos 10 anos de idade, ao participar e vencer um concurso promovido pelo Jornal do Almoço, Barbará apareceu pela primeira vez em um programa de televisão e conheceu de perto este universo. “Até então, a televisão só era um cubo na minha sala, aí eu vi como é que era aquele cubo por dentro, que pra mim sempre foi fantástico.”

O concurso pedia que a criança escrevesse uma redação sobre qual jornalista gostaria de ser, e Barbará escolheu Lasier Martins; assim, descobriu logo na infância que esse era seu caminho. “Podemos dizer que eu não cogitei outra profissão. A minha segunda opção de faculdade era cinema, que eu acho que também tem bem a ver com esse universo audiovisual.”

Arquivo pessoal

Contudo, não foi só o sonho de criança e a magia da televisão que o inspirou a seguir essa carreira, mas também a motivação que veio do lado que não é só glamour. Barbará conta que, junto com seu crescimento e amadurecimento, viu o jornalismo como um meio, um canal, para fazer algo diferente para o mundo. Tanto que hoje, após quase 10 anos de carreira, o simples fato de conversar com pessoas e contar histórias reais, fazendo um trabalho que pode mudar a vida de alguém, é o que faz seu coração acelerar. “Ali, eu sinto o jornalismo de fato acontecendo.”

Apesar de toda a paixão e o idealismo que o acompanha e motiva no exercício do jornalismo, ainda existe o lado duro da realidade:

“É completamente utópico imaginar que, como jornalista, vou mudar o mundo. Eu não vou, mas algumas coisas, sim. Pequenas mudanças que vão fazer diferença para uma pessoa”.

Ele acrescenta, falando que manter o “pé no chão” não é uma questão de derrota – muito pelo contrário, é essencial enxergar como grandiosas as pequenas conquistas e transformações que fazem parte do dia a dia da profissão. Afinal, uma simples reportagem pode causar um impacto direto ou indireto na vida de muitos, mudando e inspirando vidas.

Arquivo pessoal

Com esse poder de transformação que o trabalho dá, Barbará relembra diversos momentos emocionantes de sua carreira, compartilhando a sua paixão por aventuras e por vivenciar novas realidades, produzindo matérias que o tirem de sua zona de conforto. “Eu fiquei três dias acompanhando a vida de pessoas que trabalhavam dentro da água no Rio Solimões, na Amazônia. Então, foi uma experiência incrível estar naquela situação. Embora grotesca e insalubre e ruim para elas, eu estava lá conhecendo e dando voz àquelas pessoas esquecidas.”

Barbará ainda conta que as duas vezes em que visitou a Amazônia o marcaram profundamente e se tornaram inesquecíveis. Enfatiza que enxergar quem vive uma realidade tão diferente da sua, e poder levar isso aos olhos do público, é o que faz seu coração bater.

“Acho que, às vezes, o jornalismo perde um pouco da humanidade, a vontade de querer mostrar realmente quando as pessoas precisam. Às vezes, a gente fica muito focado em dar números, números, números… e não dá voz para as pessoas.” 

Com essa visão, Barbará ressalta que, entre todas as situações emocionantes e gratificantes que viveu, a sua parte preferida da profissão é a imersão – viajar, entrar no dia-a-dia das pessoas, fazer parte daquela história. “Não se sentir só o repórter que está entrando para vasculhar a vida dele. Mas, sim, alguém que está ali querendo dar voz, querendo saber da vida deles, de uma forma que possa trazer bons frutos para eles.”

Frustração e Felicidade

Apesar de considerar persistência uma palavra-chave para a carreira do jornalismo, Barbará compara a profissão a um parque – ele conta que não queria que sua carreira ficasse “sempre girando no mesmo lugar”, como um carrossel; sempre foi mais fã da montanha-russa, que propicia altos e baixos.

Por esses e outros motivos, é perceptível que a profissão de jornalista não é para todos. Barbará conta que teve muitos colegas e amigos bons e talentosos que escolheram mudar de ramo por não terem a persistência necessária para “aguentar a montanha-russa”. Apesar de ressaltar que muitos são felizes em seus novos caminhos, Barbará não hesita em demonstrar a sua paixão pelo jornalismo e pelas oportunidades que ele oferece:

“O jornalismo te propicia inúmeras coisas. Garcia Marquez falava, ? É a melhor profissão do mundo! Eu não sei se é a melhor profissão do mundo, mas eu acho que é a que mais te propicia possibilidades de ser feliz. Porque ela te dá uma visão de mundo enorme, uma visão de conhecimento gigante.”

Arquivo pessoal

Logo após, citando o último capítulo do filme A pior pessoa do mundo, intitulado “Nada é para sempre”, Barbará diz que o mesmo se aplica ao jornalismo, em que se vive vários momentos na profissão. Ele também comenta sobre como é comum que as pessoas só se sintam realizadas após os 40 ou 50 anos de idade, porém muitos jovens jornalistas sentem uma angústia por não terem alcançado tudo antes dos 30. . Ainda ressalta como o jornalismo é capaz de mexer com o imaginário das pessoas e fazê-las buscar fama ou dinheiro, o que, muitas vezes, acaba gerando grande frustração.

Apesar dos percalços, desafios e pontos negativos que acompanham não apenas quem segue esta carreira, mas também todas as outras, uma coisa fica clara: quem é jornalista, é jornalista por amor. Barbará se despede com uma frase que deve ser lida por todos que desejam um dia seguirem esta profissão:

“Eu usei aquela palavra-chave, persistência, para quem quer continuar, não é? Mas o principal é felicidade. Felicidade naquilo que a gente está fazendo, não importa se é na bancada do Jornal Nacional, se é cobrindo guerra na CNN, se é cobrindo o jogo no estádio, se é escrevendo jornal do bairro. Tu tá feliz? É o que importa.”

Por: Cláudia Vilemar, Luiza Pavim, Mariana Haubert

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