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250 anos, milhões de histórias: Como nasce uma Diva

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“Desculpa a correria, mas vida de diva é assim” declara Marilice logo no início da entrevista.  

Marilice Carrer é a idealizadora e coordenadora do Projeto “Divas da Alegria”, fundado em 2015 e reconhecido neste ano pela Câmara Municipal e pela Prefeitura de Porto Alegre, com a aprovação e sanção da Lei que institui a “Campanha Divas da Alegria”, a qual tem por objetivo estimular o envelhecimento ativo e saudável da população 60+. O projeto compôs a programação dos 250 anos da Cidade de Porto Alegre e, durante as comemorações as Divas da Alegria divulgaram a segunda edição do Calendário Solidário da Maturidade – RS, que está à venda e cuja verba arrecadada será integralmente destinada às atividades solidárias.

 O grupo ajuda algumas instituições filantrópicas de Porto Alegre que atendem pessoas em situação de vulnerabilidade social como a Ksa Rosa, Centro de Reabilitação Vita, Lar Gustavo Nordloud e Casa Lar do Cego Idoso. Ao longo do ano, elas também realizam recreações e participam de ações solidárias em comunidades carentes e de amparo a algumas famílias com poucos recursos.

Ressignificando histórias 

A história de Marilice e das “Divas da Alegria” está diretamente relacionada; reconhecida pelo grupo como a “Mestra”, ela traz consigo cicatrizes de momentos dolorosos, mas que foram ressignificados, a transformando hoje em grande inspiração para outras mulheres.

“Eu digo que eu sou um dos tantos exemplos, de mostrar que não há barreiras, a idade não pode ser o limite. Não existe isso. É isso o que eu mostro para essas mulheres. E superação sempre. Ousadia, boa vontade em tudo que a gente faz e, principalmente, na solidariedade”

Marilice Carrer, atualmente com 62 anos, era uma executiva de sucesso na área de telecomunicação, a qual passou pela privatização e por conta da grave crise econômica que atingiu o setor no ano de 2008, acabou sendo desligada da empresa e consequentemente se aposentando. Em um período de dois anos, perdeu o emprego e o companheiro por conta de um câncer fulminante, o que a fez entrar em depressão. Logo depois também descobriu uma séria doença pulmonar e percebeu que tinha dois caminhos: Fazer duas grandes cirurgias ou procurar ter um modo de vida mais saudável. Marilice acreditou que a melhor opção seria mudar alguns hábitos e se adaptar a um novo estilo de vida. Também foi aconselhada a fazer fisioterapia pulmonar e se mudar devido ao clima frio do Rio Grande do Sul no inverno, que poderia contribuir para o agravamento da doença. Pensando na preservação da sua saúde, ela locou um quarto no bairro Jacarepaguá – RJ.

Segundo a “Mestra”, foi lá que tudo mudou em pouco tempo,  ao ser  descoberta por um produtor de uma agência, o qual a levou a trabalhar atuando em comerciais, novelas e figuração especial em filmes. Ela conta que se redescobriu aos 51 anos, começou ter novos contatos, conviver com outras mulheres também maduras, frequentar oficinas de manequim  modelo e a participar de concursos de Miss da Maturidade. Hoje em dia ela representa a beleza da mulher madura do Brasil, conquistando ao longo dos anos 41 títulos de beleza, sendo sete destes internacionais.  

“Essa mudança de ver a vida de uma outra forma depois de uma tempestade começou a me deixar bem, mas claro sempre cuidando da minha saúde”, relata Marilice Carrer.

Arquivo Pessoal

Ela revela que sua autoestima aumentou, o que estava vivendo mudou sua percepção de mundo e provocou um bem tão grande, que depois de quase cinco anos no Rio de Janeiro, passou a sentir necessidade de voltar ao RS e compartilhar a sua experiência com outras mulheres maduras que também procuravam se reinventar. 

“Eu estava me sentindo tão bem fisicamente que falei: Gente, eu preciso voltar para o Rio Grande do Sul e mostrar para outras mulheres que estão em depressão por conta de Câncer de Mama; porque enviuvaram; porque estão sozinhas, que sempre há tempo de mudar de vida. Basta alguém dar uma chance, alguém ajudar, alguém dar o primeiro start”

Com intenção de promover um espaço de troca, cuidado, sororidade e autoconhecimento, é criado no ano de 2015 o Projeto “Divas da Alegria”, que inicialmente teve como proposta reunir mulheres maduras para uma imersão em oficinas de autoestima, manequim e modelo, paralelo a atividades solidárias. Os três pilares do projeto são a autoestima da mulher madura, a inserção no meio cultural e a solidariedade. A inovação também é uma característica forte do grupo, que mesmo na Pandemia da COVID -19 e o consequente isolamento social conseguiu se manter ativo através de encontros e eventos virtuais.

Uma das primeiras integrantes do projeto, Rosi Mendes de 68 anos, conta que se sente muito feliz e realizada por  fazer parte do grupo. Ela afirma que a Pandemia significou um tempo de grande aprendizado e superação para as Divas da Alegria. Ressalta também que  “Porto Alegre é reconhecida como a cidade dos idosos”, por isso se fazem tão importantes e necessárias essas  iniciativas voltadas para o estímulo de um envelhecimento saudável. 

Arquivo Pessoal

Divas do Cinema, Calendário Solidário

A segunda edição do Calendário Solidário da Maturidade – RS, faz uma homenagem às Divas do Cinema. O trabalho foi um mergulho profundo na vida e na obra de grandes atrizes. As Divas da Alegria observaram, pesquisaram e aprenderam com as atrizes intérpretes dos filmes, trazendo com precisão e glamour as icônicas personagens.   

As fotos foram feitas nos espaços do Palácio Piratini, orientadas pelo produtor e diretor artístico San Lopez, com a participação de 14 mulheres que protagonizaram suas divas favoritas: Marilice Carrer em “O Diabo Veste Prada”, Ilá Casagrande em “Os Homens Preferem as Loiras”, Graça Romero em “Uma Noite no Rio”, Luci Rezende em “Bonequinha de Luxo”, Vânia Seeger em “Star Wars”, Gilda Bellos em “O Auto da Compadecida”, Asta Balus em “Janela Indiscreta”, Carmen Neves em “Cisne Negro”, Ida Camargo em “Mudança de Hábito”, Elvira Machioretto em “ Maria Antonieta”, Vilna Opitz em “101 Dálmatas”, Maria Luci Mottini em “Cleópatra”, Neiva da Cunha em “Sex andthe City”, Yara Garbin em “Prét a Porter”. Marilice, que buscou também se aperfeiçoar no Teatro e já possui o DRT de atriz, realça o  trabalho artístico – cultural do projeto:

“Eu acho muito importante a questão do Teatro, porque a gente trabalha muito o cognitivo na terceira idade e o teatro ajuda a se soltar, ele ajuda você se descobrir muito mais. Às vezes, a gente passa uma vida como executiva, mãe, avó – cuidando – e agora é a nossa hora de se libertar, se superar e viver intensamente o hoje”.

Arquivo Pessoal

Gilda Bellos, de 84 anos, é um exemplo do forte sentimento de pertencimento e gratidão ao grupo:

“Minha vida mudou completamente. Tenho uma vida movimentada e alegre desde que entrei para o grupo das Divas da Alegria. E participar do Calendário Solidário foi uma imensa emoção e realização”. 

A integrante mais nova do grupo, Luci Rezende de 58 anos, que já faz parte do projeto há quatro anos, por sua vez relata: “Minha vida mudou para melhor, eu já gostava de ajudar as pessoas, mas com o grupo me motivou ainda mais e estar nas duas edições do Calendário Solidário da Maturidade, e poder ajudar quem precisa é muito gratificante.”. Luci salienta que procura seguir o lema do projeto “Divas da Alegria” que é “Viver e amar”.

Destaca – se que no dia 26 de Março, celebração de 250 anos de Porto Alegre, as Divas da Alegria marcaram presença, desfilando pelo centro da cidade com os figurinos usados nas fotos do calendário. Espalhando simpatia e bom humor, interagiram com o público, contaram a história do projeto e expressaram através da arte o carinho que o grupo têm pela capital gaúcha. Ao ser questionada sobre o significado de Porto Alegre, Marilice responde: “Harmonia” e completa

“Vivo feliz nesta Porto Alegre que tanto amo”.

O Calendário Solidário da Maturidade pode ser adquirido diretamente com as integrantes do Projeto em eventos que o grupo participa ou pelo Instagram @divasdaalegria.

Texto: Júlia Schneider

Edição: Estephani Azevedo

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