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Ansiedade em tempos de coronavírus: caminhos que uma pessoa com o transtorno deve seguir

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por Henrique Lemes

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgados no ano passado, só no Brasil, existem em torno de 18,6 milhões de pessoas sofrendo de ansiedade. Com o avanço da Covid-19, muitos países decidiram estabelecer o isolamento social para conter a disseminação do vírus. Mas para quem tem ansiedade, ficar isolado pode ser um grande desafio. Então, quais os caminhos que uma pessoa com a doença deve seguir?

Em março, o Ministério da Saúde regulamentou os atendimentos médicos à distância durante a pandemia do coronavírus. A modalidade poderá ser usada para atendimento pré-clínico, de suporte assistencial, de consulta, monitoramento e diagnóstico tanto em atendimentos do Sistema Único de Saúde quanto da rede privada. E isso inclui, atendimentos psicológicos e psiquiátricos. Além disso, os médicos também estão autorizados a emitir atestados ou receitas desde que assinem os documentos eletronicamente.

A psiquiatra Camila Genz Kistemacher, formada pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), fala que os atendimentos online ocorrem por vídeo chamada e que a consulta é conduzida conforme o padrão. “Como se a pessoa estivesse no consultório”, diz a psiquiatra.

Entretanto, ela ainda afirma que há algumas limitações, principalmente relacionadas à questão de necessidades de certas medicações. “O CRM do Rio Grande do Sul, nosso Conselho Regional de Medicina, liberou uma ferramenta para prescrição de medicações online. Está sendo aceita nas farmácias, porém algumas medicações mais específicas, como alguns tipos de calmante por exemplo, não podem ser prescritos assim. Tem que ser prescritos por meio de receita física, então nós temos algumas limitações. Mas, no geral, tem ocorrido de uma forma muito boa e tem trazido uma opção de auxílio neste momento bastante importante”, explica.

Camila também disse ter notado que muita gente ainda não sabe da existência, nem como funciona o atendimento online. Segundo ela, as pessoas estão bastante perdidas quanto a como pedir esse auxílio e diz que o que falta é divulgação. “É muito importante que haja divulgações de que existem essas ferramentas. Existem até atendimentos a comunidade, abertos por órgãos da psiquiatria e da psicologia como a Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, que está com uma linha telefônica para quem precisa de auxílio”, conta. O atendimento gratuito pode ser pedido através do link: www.bit.ly/2wrEBKp

É recomendado o estabelecimento de rotina saudável, cuidar excesso de informações e, se possível, evitar certos pensamentos

A especialista em psicologia analítica Carla Christini Guimarães, que realiza consultas por meio do Central Psicologia, site que reúne profissionais da área de todo o Brasil, afirma que não ter uma rotina pode gerar uma sensação de frustração para os ansiosos. “Porque parece que o dia não rendeu tanto quanto deveria render. Não está estudando tanto quanto deveria estar estudando. E isso, para uma pessoa que tem tendência a ter sintomas ansiosos, é muito pior, podendo desencadear uma crise. Então, por mais que a gente acabe relaxando um pouco nisso, tentar manter um foco nesse ponto, de manter uma regra, manter uma rotina”, afirma a psicóloga.

Outro fator importante é evitar a sobrecarga de informações sobre a pandemia. “Sim, se manter atualizado sobre o que está acontecendo no mundo, sobre o que está acontecendo aqui no Brasil. Porém não ficar só lendo sobre isso, porque isso também pode desencadear aquela sensação de que “o que que vai ser da gente?”, “Como vai ser o amanhã?”, “Como eu vou me virar daqui a algum tempo?”, “Quando isso vai acabar?”, questões que a gente não tem como responder neste primeiro momento”, salienta.

A prática de atividade física durante esse período de isolamento também é fundamental e bastante indicada pelos profissionais de saúde para o controle da ansiedade. “Manter algum tipo de atividade física pra quem é ansioso é muito importante”, destaca a psiquiatra Camila Genz Kistemacher. Ela ainda afirma que pessoas ansiosas devem tomar cuidado até mesmo com certos pensamentos e que precisam focar em coisas que estão dentro do controle do indivíduo como: cuidar da saúde, lavar as mãos, usar o álcool em gel, sair o mínimo possível e se precisar sair, usar a máscara.

E se houver crise de ansiedade, o que fazer?

Segundo a psiquiatra Camila, é normal que a pessoa com transtorno de ansiedade se sinta mais instável neste atual contexto em que vivemos e que, por conta disso, possa até ocorrer mais crises agudas – crises em que, às vezes, a pessoa tem sintomas físicos como: aperto no peito, sensação de falta de ar, ou choro intenso junto com pensamentos muito catastróficos de que tudo vai dar errado, de que a situação nunca vai melhorar ou que podem acontecer coisas horríveis. Mas se houver uma crise, o que fazer?

Para Camila, se o ansioso vive com os familiares, eles podem auxiliar assegurando a pessoa em crise que estão juntos dela nesse momento, tentando acalmá-la e que ela está num ambiente seguro, de que está junto a pessoas à quem pode confiar. Alguns ansiosos podem querer falar sobre o que estão sentindo e quais seus medos, neste caso é preciso ouvi-lo sem criticar, sem tentar buscar uma solução imediata. Mas também, se a pessoa não quiser falar, respeitar o momento e estar do lado, apenas. “A ansiedade está muito associada ao medo, e ter alguém de confiança ao nosso lado reduz o nosso medo”, afirma.

Além disso, é necessário prestar atenção se as crises estão ocorrendo frequentemente, pois, se ocorrem, talvez a pessoa precise de um tratamento contínuo. Ela ainda conta que em último caso, se durante a crise o indivíduo não conseguir se controlar ou se estiver se sentindo muito mal, às vezes é necessário procurar a emergência, que também possui recursos para a solução da crise.

“É importante ressaltar também que caso o familiar não esteja no mesmo ambiente da pessoa ansiosa que tem crise, é possível ajudá-la. Mesmo por meios eletrônicos, seja por vídeo chamada, ou chamada normal. O fato de estar ouvindo, de estar ali presente pela voz ou vídeo, já auxilia também essa pessoa em crise. É importante manter a calma e tentar conversar e ver como pode auxiliá-la”, diz a psiquiatra.

A psicóloga Carla conta que a crise de ansiedade gira em torno de 5 a 10 minutos e afirma que é possível estabilizar esse tipo de crise por meio de um exercício chamado respiração diafragmática. “Ele ajuda a baixar o nível de cortisol do nosso cérebro, que é o hormônio do estresse. Então se você conseguir baixar o nível de cortisol dentro da corrente sanguínea, de uma forma geral, tu consegue fazer com que a crise de ansiedade diminua”. Ela também conta que esse exercício se trata de uma respiração mais profunda, pausada e que através dele a pessoa começa a prestar atenção na respiração e não no que está a sua volta, mas para isso ela precisa que alguém a ajude. “Normalmente, a pessoa em crise não consegue fazer sozinha esse exercício. Por isso que eu sempre oriento, quando possível, é lógico, ter uma pessoa para fazer esse guia na respiração. Fazer ela puxar o ar, segurar um pouco e soltar o ar lentamente para que ela preste atenção no que a pessoa está dizendo e aí sim conseguir fazer o exercício completo”, ensina a psicóloga.

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