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2020-2 Blog de Papel

DE VOLTA AOS CACHOS: um processo de autoestima, identidade e aceitação

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Por que a quarentena se tornou o momento ideal para assumir os fios naturais?
“Desde a minha infância, sempre fui bombardeada com a informação de que o cabelo
liso que era aceitável pela sociedade. É algo já enraizado por muitas pessoas. É comum
ter gente, infelizmente, opinando sobre o que é melhor e mais bonito para o seu cabelo.
Já recebi esse tipo de comentário da minha própria família e é algo bem desagradável,
pois você acaba ficando pra baixo”. O relato da criadora de conteúdo digital Jéssika
Alexandreli, é um entre muitos sobre a transição – processo de retirada de produtos
químicos do cabelo, para assumir os fios naturais. Agora, ela já influencia mais de 50
mil mulheres a fazerem o mesmo.

Salões de beleza fechados, isolamento social e tempo de sobra para cuidar da aparência
são alguns dos fatores que formam o cenário (quase) perfeito para uma mudança no
visual. A transição capilar consiste em abandonar as químicas capilares, como o botox,
relaxamento e progressivas, e assumir a beleza natural do cabelo . É um processo de
aprendizado e auto aceitação que impacta diretamente na autoestima da mulher.

Aprender a lidar com um novo cabelo já é difícil, e se torna ainda mais quando se
precisa passar pelo julgamento que a sociedade pode causar. Devido a pandemia, muitas
mulheres estão optando passar pela mudança no conforto das suas casas.
Segundo a cabeleireira e especialista em cabelos cacheados Aline Benevides, a procura
pela transição capilar aumentou muito durante o período de isolamento social. “O
número de pessoas que me procuram ou que procuram profissionais de cabelos
cacheados é bem grande, mas cresceu bastante durante a quarentena. Acredito que pelo
fato de as pessoas estarem mais em casa e não poderem recorrer tanto aos alisamentos
nos salões de beleza né, aí o cabelo vai crescendo e a pessoa vai buscando referências e
informações sobre o que é e como é a transição”, afirma ela.
Quanto a autoestima, Aline relata que só é possível passar pelo Big Chop (corte
definitivo para retirada dos fios com química) quando estiver 100% certa de que está
pronta. “Não existe nenhum tamanho ou momento certo pra isso. Não é o cabeleireiro
que decide isso e sim a cliente, que tem que se sentir confiante o suficiente para realizar
o corte”, afirma ela. Porém, nem todas as mulheres passam pela transição com tanta
facilidade.
Para Maria Lúcia de Melo, o processo não foi tão simples, considerando que a mudança
foi mais uma necessidade do que uma escolha. “O que me motivou a passar pela
transição capilar foi quando, no último alisamento que eu fiz, em março do ano passado,
eu tive uma lesão no couro cabeludo. Foi tanto tempo de progressivas e escovas que
chegou uma hora em que eu comecei a me questionar porque passar por isso, sabe?
Porque me condicionar a passar por algo que me causa dor?”, conta a gerente
operacional, que após 30 anos de procedimentos químicos no cabelo, finalmente tomou
coragem para assumir seus cachos.

foto: arquivo pessoal de Maria Lúcia

“ Eu comecei a ver outras mulheres, em lugares que a gente normalmente não veria uma mulher negra usando um cabelo black, começarem a se permitir isso. Então eu entendi que eu posso ser uma boa profissional, uma mulher interessante e uma mulher bonita com o meu cabelo natural”

Assim como Jéssika e Maria Lúcia, muitas outras mulheres têm enfrentado os desafios
durante a transição. Um dos principais é ter paciência, que ambas alegam ser
fundamental. Danielle Dallamaria tem 19 anos e ficou 1 ano e 10 meses em transição.
Segundo ela, foi um processo de liberdade: “Eu acredito que por estar em isolamento
agora, se tornou muito mais fácil, porque eu não tinha aquela necessidade de ajeitar o
cabelo ou a preocupação com ele estar bonito ou não. Isso me ajudou muito porque eu
fui capaz de me libertar do secador e conhecer o meu cabelo como ele realmente é,
talvez se a gente não estivesse nessa situação de pandemia, eu não teria tido o tempo e a
paciência necessária para me adaptar.

foto: arquivo pessoal de Danielle - antes e depois do big chop
foto: arquivo pessoal de Danielle – antes e depois do big chop

Quando questionada que conselho ela daria para alguém que está passando ou quer
passar pela transição, Danielle disse: “É preciso se ter muito cuidado porque, durante a
transição, é muito fácil acabar se comparando com outras pessoas que já passaram pelo
processo. Afinal, o sentido de parar com a química é justamente assumir o teu cabelo
natural. É sair do padrão do cabelo liso e entender que essa cobrança do cabelo perfeito
não existe”.
A cabeleireira Aline compartilhou algumas sugestões para facilitar a vida de quem tem
interesse no assunto. Confira o infográfico com 4 dicas para quem quer iniciar a
transição e um vídeo para aprender como finalizar corretamente os cachos.