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Adotar uma esperança

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Vinícius de Moraes, famoso compositor de Música Popular Brasileira, já cantava: “o sofrimento é o intervalo entre duas felicidades”, e o famoso ditado, popular no Brasil e no mundo, sempre disse: “o cão é o melhor amigo do homem”. Seria possível unir essas máximas para ter momentos felizes durante a pandemia que assolou lares ao mesmo tempo em que nos mantém isolados em nossas casas?

Segundo os quatro entrevistados que puderam levar consigo um companheiro de quatro patas nesta quarentena, a reposta é: SIM! Isso porque adotar uma atitude de esperança hoje pode ser bastante difícil, mas quem tomou a atitude solidária de adotar um cão ou gato neste período de isolamento relata maior leveza no dia a dia desde a chegada do novo amigo.

“Às vezes eu até esqueço que estou em uma pandemia”. É a afirmação da estudante de psicologia Giovana Mossi, de 23 anos, sobre o período de quarentena na companhia de seu animal de estimação. Giovana é a nova tutora da cadelinha Lua, de nove anos, antes pertencente a familiares que não teriam condições de arcar com as necessidades da PET.

Ao saber disso, Giovana foi buscá-la neste período de isolamento social, em julho, e hoje comemora sua decisão: “Desde a chegada da Lua eu fiquei mais bem-humorada. Meus pais trabalham fora o dia inteiro e eu me sentia muito sozinha. Agora tenho uma companhia e me sinto melhor e mais feliz”, conta a estudante.

Na foto: Lua estava muita atenta à nossa entrevista

Raphaela Gauer, também de 23 anos, compartilha dessa opinião. A assistente bancária conta que frequentemente se sentia desanimada, cansada do trabalho e enfadada da rotina em casa até a chegada de Meg Maria, uma meiga cadelinha de seis meses a quem Raphaela chama de filha: “Hoje ela me acorda todos os dias. Ela é muito carinhosa e muito companheira.”.

Meg Maria foi adotada diretamente de um abrigo de animais em abril deste ano, mês do aniversário de sua tutora que, isolada desde março, sente-se muito bem por ter a PET na família: “Ela está sempre na minha volta, na volta da minha mãe e da minha irmã, ela não nos deixa em hipótese alguma”, diz.

Sobre a solidão, a psicóloga clínica Cláudia Adriana Lufiego, que é especialista na área de Gerontologia Biomédica e atua na cidade de Novo Hamburgo, relata que, em função do isolamento social e de todo o contexto pandêmico, muitos pacientes que apresentam transtornos mentais têm tido seus quadros agravados e outros, que nunca apresentaram sintomas, hoje tem que lidar com depressão, ansiedade e pânico.

Esse é um dos motivos pelos quais Cláudia Adriana vê o movimento de adotar um animal como extremamente benéfico para a saúde. A psicóloga comenta sobre o amor incondicional dos animais para com seus tutores ao descrever as mudanças fisiológicas de uma pessoa ao interagir com seu PET. “O cortisol do estresse dá uma parada e a produção de endorfina e de serotonina aumentam. Até mesmo oxitocina, conhecida como o hormônio do amor”, prossegue.

Amor é justamente o sentimento que Guilherme Bettini, músico porto-alegrense de 22 anos, dedicou a todos os seus gatos e agora dá a Ozzy, o mais novo e agitado membro da família. Guilherme conta que seu gatinho foi resgatado da rua há dois meses, tem por volta de dois anos e é muito brincalhão: “Ozzy animou muito a nossa quarenta”, afirma.

Para além da diversão, Cláudia Adriana relata que os benefícios de adotar agora abrangem melhorar o trato com outras pessoas e até mesmo a forma de se expressar. “Não é só uma questão do afeto e do carinho, mas até a linguagem. Se a pessoa é um pouco mais tímida, ou mesmo pensando em crianças, é uma ótima ideia”, garante.

Foi pensando na filha pequena que a professora Ana Bertol, de 28 anos, adotou Luna, a gatinha branca que, com menos de três meses de vida e pouco mais de duas semanas na casa, já é companheira inseparável de Morgana, de 3 anos de idade.

Com a pandemia, a criança deixou de atender às aulas presenciais e, consequentemente, de conviver com colegas de sua idade, e Ana explica que este foi o principal motivo para trazer Luna à família: “Foi uma mudança bem significativa para a Morgana, pois agora ela tem com quem brincar”, diz.

Confira aqui o vídeo em que os entrevistados apresentam seus PETs amorosos!

Para o veterinário Flávio Fernandes, especialista em clínica de pequenos animais que atua na cidade de Novo Hamburgo, a adoção vem para beneficiar tanto o animal como o tutor que necessita de uma companhia e afeto inclusive na situação em que nos encontramos. “O ser humano é um ser altamente social e ele precisa, ainda mais trancado entre quatro paredes, de um cão ou gato para dar aquele ‘plus’ na vida”, diz.

Confira aqui as dicas de Flávio para uma convivência saudável com o PET na pandemia.

Também levando em conta a saúde e o bem-estar do PET, a protetora de animais Maria Emiraci Maraschin, de Porto Alegre, destaca a responsabilidade cabível aos adotantes mesmo em meio à pandemia. “As pessoas não têm noção do quanto a devolução é ruim para o bichinho, se soubessem pensariam melhor na hora de adotar”, relata.

A voluntária garante sempre seu grande empenho na adoção responsável de animais: “Imprevistos acontecem, mas é preciso ter firmeza da própria situação para adotar”. Por isso ela recomenda àquelas pessoas que trabalham fora de casa durante ou depois da pandemia que considerem a adoção de um animal mais velho, que é menos agitado, mas igualmente disposto, ou adotar dois PETs de uma vez para que estes possam servir de companhia enquanto seus tutores estiverem fora. “Aí sim eu doo, sem problema nenhum”, explica Maria Emiraci.

Ana também enfatiza a preocupação com a adoção responsável, pois considera a nova amiga da pequena Morgana uma integrante de sua família: “Adotar um bichinho é uma responsabilidade com ele, e é preciso saber que pelo menos pelos próximos quinze anos vai haver essa responsabilidade”. Sobre esse tópico, ainda ao lado de sua filha canina, Raphaela diz: “eu sou muito a favor da adoção de animais. Não precisa comprar, tem que adotar, eles estão ali e são muito amorosos.” A seguir, a adotante comenta sobre o quão amável é sua Meg Maria: “Talvez por terem tido um início de vida sofrido os animais adotados são ainda mais gratos”, garante.

É o que pensa Flávio, cujo trabalho com animais de estimação e seus tutores não parou. A medicina veterinária foi considerada serviço essencial e é preciso levar os PETs à clínica nas especificações descritas nos quadros acima. E, da mesma forma que as consultas, as adoções não podem parar. Segundo o veterinário nossos amiguinhos peludos precisam de nós e o agradecimento virá com lambidas e roronadas. “É a garantia de um amor para toda a vida”, completa.

Eu compartilho esperança” – “Adotar uma esperança”: reportagem por Lúcia Centeno