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2020-2 Blog de Papel

UM FESTIVAL DEMOCRÁTICO – Henrique Muller

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Com o slogan “Tudo vai ficar bem” no encerramento do 48° festival de gramado temos uma visão da importância do evento mais tradicional e ininterrupto do Brasil para o seu público. Sendo uma voz de esperança e que segue se redefinindo mesmo em meio à pandemia.

Com sua transmissão de debates e premiações ao vivo em streaming por canais digitais, o 48° festival de cinema de Gramado ocorreu entre os dias 18 e 26 de setembro deste ano. Uma das edições mais democráticas, desde 1973, tendo em vista que qualquer pessoa que tem internet em casa pôde assistir à premiação do kikito por meio do canal oficial no Youtube.

Todo evento, que antes era preparado em três meses, sofreu grandes alterações em sua programação. Este ano a produção do evento se empenhou durante dois meses para fazer todas as preparações e deixar tudo perfeito, já que a cenografia costuma ser maior. A produção não deixou de trazer o tapete vermelho, que nesta edição estava aberto ao público respeitando todos os protocolos de higienização e com seus devidos cuidados. Além do famigerado kikito gigante que faz muito sucesso com o público do festival.

A 48° edição contou com cinco divisões de filmes competitivos: 19 curtas Gaúchos, 14 curtas Brasileiros, 7 longas Brasileiros, 6 longas Estrangeiros e 5 longas gaúchos, dentre eles, Portuñol de Thais Fernandes.

Thais Fernandes de 36 anos é formada em Jornalismo e trabalha como montadora e diretora de projetos audiovisuais para televisão e cinema desde 2007. Atua também no teatro como dramaturga e diretora, focada atualmente em projetos para o público infantil. A cineasta ganhou a Mostra Gaúcha de Curtas do Festival de Cinema de Gramado em 2018 com o documentário “Um corpo feminino”. O filme discute questões de gênero, algo bastante atual.

Além deste documentário, Thais Fernandes conta com mais 27 projetos entre Documentários dirigidos, longas e até mesmo o desenho infantil “pandorga” com grande relevância no âmbito nacional.

Artista Leo Lage / Divulgação

Vencedor de dois prêmios, Portuñol é um filme de estrada que viaja pelas fronteiras do Sul do Brasil investigando como se dão as trocas culturais dos habitantes de “fronteiras” através da linguagem proveniente de seus países. 

“É um filme de baixo orçamento, com uma equipe bem pequena no qual viajamos por vários lugares do país em uma van.” Thaís Fernandes rodou por todo extremo sul do país buscando os melhores retratos para Portuñol, antes da quarentena, quando se tinha o prazer da vida compartilhada.

Thais Fernandes que assistiu toda programação do evento em seu sofá devido à pandemia, afirma: “Este sem dúvidas foi um evento bem diferente. Gostaria de receber o prêmio presencialmente, claro. Mas por um lado foi bom, o evento mais democrático na minha opinião.” Ela descobriu ter ganho a categoria de melhor curta gaúcho através de uma live, mesmo assim se mostrou super feliz.

Ela que luta pelo devido respeito à categoria toca em um assunto bem importante, no âmbito governamental: “Tenho vários projetos para o futuro, o que eu preciso é que o nosso país valorize a nossa arte e que a gente consiga realizar as coisas através do fundo setorial.” O audiovisual vem sofrendo cortes e boicotes pelo governo federal de diversas formas.

Para 2020, o governo propôs um projeto ao poder legislativo para o corte de 43% no orçamento do Fundo Setorial do Audiovisual. A menor dotação nominal para o fundo desde 2012. Sabe-se que não é algo novo, mas reduzir a principal fonte de fomento de produções audiovisuais no País é visto por profissionais da categoria como um ataque direto.

O governo também propôs que Agência Nacional do Cinema (Ancine) fosse realocada para nova sede em Brasília e integrada ao Conselho Superior de Cinema, outro ato falho. Lembrando que agência segue sem presidente desde que Christian de Castro foi afastado do cargo há 1 ano por uma decisão da 5ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro.

Estreantes no cinema nacional, Victor Di Marco e Márcio Picoli, estudantes de audiovisual na Universidade Uniritter, se mostram tristes pelo fato de não estar presentes presencialmente no primeiro festival ao qual eles participaram. Mas apesar de tudo e com apoio da Universidade conseguiram trazer um filme super inovador e atual no âmbito técnico.

“Não era o formato ideal, mas foi o que era possível. Acredito que pra uma primeira versão foi legal” Marcio Picoli avalia, quando perguntado sobre este novo formato do evento em tempos de pandemia. O curta gaúcho ‘O que Pode um Corpo?’ é estrelado por Victor Di Marco e aborda sua vivência enquanto uma pessoa com deficiência.

O filme não se trata apenas de Victor, apesar de ser protagonizado por ele. Serve como uma janela para um mundo muito inexplorado, trazendo uma discussão em torno do assunto “deficientes” que, geralmente, são tirados de foco. Conta com direção de seu parceiro Márcio Picoli, que lhe deu suporte em idéias e no desenvolvimento do curta. 

Veja o comentário de Victor Di Marco e Márcio Picoli sobre sua estréia no Festival de Cinema de Gramado.

“Um sentimento bem agridoce. Era um sonho ter o nosso filme em festivais.” Victor Di Marco.

Apesar de 2020 ser um ano de transtorno para muitos, o festival se saiu excepcionalmente bem, sempre muito político. Agora mais um ano de aguardo para a próxima edição, quem sabe uma mescla entre streaming e presencial? Vimos um evento bastante democrático, com todo conteúdo artístico dando visibilidade, olhar e presença para todos os públicos.