“O estado de emergência dá autoridade à polícia de prender sem justificativa”. Esse foi um dos momentos de maior apreensão para os portugueses durante a pandemia, segundo a jornalista brasileira Mariana Muller. Portugal declarou estado de emergência no dia 19 de março, assim permanecendo até 3 de maio. A última vez que uma situação semelhante havia ocorrido foi em 1975, quando o país estava saindo da ditadura liderada por Antônio Salazar. Embora o presidente atual, Marcelo Rebelo de Sousa, tenha tomado essa medida visando proteger a saúde da nação, o receio da população foi inevitável. “Levando em conta que os policiais estavam fazendo turnos de 12 horas e o nível de estresse geral, muitas pessoas tinham medo de andar na rua”, relatou Mariana.
Atualmente residindo em Lisboa, a jornalista conversou virtualmente com os alunos de Jornalismo da ESPM Porto Alegre. A atividade aconteceu na disciplina de Técnicas de Apuração e Redação Jornalística, ministrada pela professora Ângela Ravazzolo. Com relação ao dia a dia, Mariana ressaltou que a principal mudança foi nas compras do supermercado, realizadas inteiramente online. “Os restaurantes também tiveram que se adaptar”, comentou, “tem um perto do meu prédio que está atendendo por mensagens e espaçando os horários de retirada de pedidos, a fim de evitar aglomerações.”
Doutoranda em Estudos de Comunicação pela Universidade do Minho, Mariana tem 31 anos e é formada em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), além de ser mestre em Comunicação e Informação também pela UFRGS. Foi editora-chefe do programa Estação Cultura, da TVE-RS, e atuou como repórter e editora no Jornal Zero Hora. Seu doutorado tem como tema de pesquisa o jornalismo cultural em ambiente digital, focando na relação entre Brasil e Portugal por meio do estudo da Folha de São Paulo e o jornal português Público.
Outro tema de discussão foi a maneira como o governo português vem sendo retratado na mídia, considerado um exemplo positivo ao combate do novo coronavírus. No entanto, apesar do baixo índice de óbitos e infectados, Mariana afirmou que Portugal também tem seus problemas, ao contrário do que dizem alguns veículos de comunicação nacionais e internacionais. “Vi uma matéria no Fantástico que me incomodou bastante por ter reforçado o estereótipo do ‘português obediente’, como se ninguém aqui estivesse furando a quarentena”, contou a pesquisadora. “É verdade que a maioria das pessoas têm respeitado o isolamento, mas sempre há as exceções.”